Aforismos - Marcos Ribeiro
O animal homem está dividido em três categorias: o idiota, o comum e o
humano. O primeiro segue a moda; o segundo, o nada; e o terceiro, a arte.
Se o Diabo não existisse, seria preciso inventá-lo. Pois, se ele não
existisse, quem levaria a culpa das tiranias do Estado ou da igreja? Quem se
responsabilizaria pelos crimes acometidos por essas ideias sagradas senão um
sagrado às avessas? Quem, o povo impensante, acusaria quando lhe faltasse o
milagre? As próprias ideias de sagrado que estão acima dele, os fantasmas de
Deus ou do Estado? Não. As degradações reais tem que ser culpa de um fantasma,
porque, o que não existe enquanto real, Deus, Estado, Diabo etc., não podem se
defender, podem apenas atacar.
O gênio na raça humana foi uma
alucinação que a natureza teve, uma falha que ocorreu na espécie homo sapiens,
que evoluiu apenas para caminhar em marcha no mundo, seja por orientações divinas;
seja por ordens dos líderes para o trabalho, pela sobrevivência e para a
perpetuação da espécie. Não, a genialidade não é uma dádiva, é um desvio do
natural, que começa da doença da vaidade auto-divinal , que vive como vidente do presente e termina com a
desgraça de morrer imortal , e a imortalidade do indivíduo nunca esteve nos
planos da natureza. Podemos concluir que foi um erro que deu certo, pois, não
fossem pelas dores do parto dos gênios e suas respectivas obras, o mundo seria
trabalho, consumo, guerra e morte, talvez a natureza humana nem mais existiria.
Um pássaro preso na gaiola só come o que o seu dono oferece, assim é o
religioso, só aprende o que o seu líder lhe ensina: nunca aprendeu a voar.
A maior maldade do Kafka foi reduzir o inseto a um homem.
A missão do artista é transformar o seu silêncio em palavras escritas
e/ou sons, e o invisível em imagens, de modo que escutemos e vejamos nossa
memória que nunca vivemos.
As pessoas comuns sonham com conquistas. O artista se contenta com a
conquista do seu sonho.
A luz como o amor são contraditórios, quando nos aparecem em demasia,
cegam.
Acreditar em deus é acreditar na poesia. É acreditar nos poetas que
escreveram seus delírios, que fizeram 3 e 2 não ser 5. Pois é essa a função da
arte, destruir a lógica, enquanto a ciência a coloca de pé. Pois desde que o
homem questionou o porquê do raio que atravessava o absurdo da existência,
começou a refletir; criava-se então o delírio que conhecemos como imaginação, e
que os religiosos conhecem como verdade.
O grande problema em relação com a cultura, não é que a maioria das pessoas não tem cultura, porque, como se diz, o que é cultura? A questão é que as pessoas são produzidas pela cultura exterior, o inconsciente é criado pela cultura fabricada da época, da moda, do espaço, e isso as impedem de enxergar a cultura delas próprias, ou, de se produzirem a si mesmas. E é isso que os grandes escritores ensinam: eles nos fazem voltar a nós mesmos, não ficamos hipotecados a eles, mas livres, e é somente isso que importa na cultura: a liberdade.
O filósofo é um profeta que enxerga não o futuro, mas o presente. Que é
uma espécie de presente eterno.
Os filósofos escrevem seus dogmas à lápis.
O talento para certas áreas do pensamento (das artes, da filosofia, da
poesia) é como um trem sem freios rumo ao abismo do infinito. Nesse trilho há
desvios que levam a lugares menos perigosos, se o maquinista quiser, por
exemplo, a literatura alegre de fácil acesso, dos deprimidos-alegres. Outro,
que leva ao definhamento, com destino para a boçalidade: conheci pessoas que
estiveram no abismo, que brigavam, brincavam com os demônios, mas que por algum
motivo começaram a se afastar e voltar para estação Niilismo, suicidas da vida
afirmativa, até se resumirem a zumbis, cheios de vida alheia.
Só quem ama o próximo como a si mesmo é o artista, porque ele produz a
beleza, cria significados para a espécie humana mesmo sendo odiado pelos
homens, mesmo sendo, na maioria das vezes, maldito, desprezível. E ele ama a
humanidade, antes de mais nada, por amor a si mesmo, e é isso que gera o ódio
dos ressentidos, dos compassivos que não o compreendem. O grego Suidas já havia
traduzido essa questão quando fez as ninfas dizerem a Narciso: "Se
amares a ti próprio, por muitos será odiado."
O artista torna concreto em palavras, em sons, em imagens, os
sentimentos abstratos; materializa as forças, o invisível. Traz a lume os
pensamentos que os outros reprimem e expõe o inconsciente dos moralistas.
A palavra "bárbaro" originariamente do grego antigo, quer
dizer "não grego", que era o mesmo que "não-civilizado".
Depois, o império Romano adotou o termo para classificar aqueles que viviam
fora da muralha de Roma. Hoje poderíamos adotar a mesma palavra para designar
como "bárbaro" , todos aqueles que vivem fora do mundo da arte, da
ciência, do amor ao conhecimento, que dá acesso à educação e ao humanismo. Fora
disso resta a barbárie.
Concordo com a máxima: religião e política não se discute. É sempre
perda de tempo querer impor um ponto de vista a alguém que já é determinado a
defender a sua bandeira. Portanto, nunca se deve discutir religião e política,
mas sim, atacá-las.
As pessoas comuns veem o mundo atrás de um véu; as inteligentes, no que
há por trás do véu; e os gênios, no que está por dentro do que está atrás do
véu.
As pessoas procuram os psicólogos quando querem se livrar da loucura. E
buscam nos artistas a cura da asfixia da normalidade.
Os artistas não suportam os comuns, os burocratas e os infelizes felizes.
O conhecimento traz libertação, elevação, educação, vida; via filosofia,
arte, ciência, história. Por outro lado, ajuda enxergar com maior nitidez o
oposto: a mediocridade, os boçais, os alienados, os “Zés Ninguém”. Isso faz
daqueles que se superam serem ao mesmo tempo: nobres e malditos.
O gênio é como o vírus. Quando todos pensam que ele está erradicado, ele
sofre mutações e volta espalhando uma nova peste.
Se Deus existisse, ele seria apenas o diretor desse teatro de loucos que
é a humanidade.
Um ataque cardíaco, a arte e o amor, necessitam de urgência.
Quem se torna amigo do conhecimento, chegará uma hora, que só será amigo
de quem é amigo do conhecimento.
Sem a arte para embelezar a vida é impossível uma vida plena. Por isso
as pessoas superficiais sempre estão em busca da distração. Para ocultar a
feiura que elas mesmas veriam se olhassem para si.
O antônimo de poeta é militar.
As religiões são introduzidas no inconsciente, na primeira infância, e
lá ficam como um lago parado. O conhecimento destrói as barragens e transforma
o pensamento num rio que vai desaguar no oceano do ateísmo, onde buscará a
compreensão dos acontecimentos, não de fora, de cima, mas dos mistérios do
infinito da própria alma.
Deus no seu silêncio todo dia nos fala: eu não existo. Mas as pessoas
fingem não ouvir.
Quem acredita no primeiro mandamento judaico-cristão, nunca amou de
verdade.
Encontramos a perfeição quando algo exterior se molda a nossa alma. A
paixão, quando se molda com o nosso coração. E o amor, quando se molda com as
nossas loucuras.
Só existe uma pessoa boa nesse mundo, aquela que não existe. Por isso
Jesus é tão amado, porque se existisse, seria vagabundo, imprestável, chato,
indiscreto e por fim, acabaria sendo crucificado.
Não nos enganemos, a vida é feia, somente a ilusão e a arte, é que a
faz parecer bela.
O inferno só existe onde existe a religião.
Não existe diálogo com Deus, existe apenas o monólogo com a nossa
consciência.
Se Jesus vivesse hoje, sua família o chamaria de irresponsável; a
polícia, de vagabundo; e os vizinhos, de gay.
Quem acredita cegamente na palavra de Deus, na criação em seis dias,
na volta de Cristo, na ressurreição, no paraíso e que não questiona, não busca
e não duvida das escrituras, é abençoado com a mais rica recompensa: a
ignorância.
As palavras que provaram que Deus é uma fábula, saíram da boca de uma
serpente falante.
Um artista sem uma paixão é como um soldado sem um arma na guerra.
Há músicas que combinam com vinho; outras, com arsênico.
Prefiro ser sério com as mentiras da Arte, a ser um palhaço com as verdades do realismo.
Prefiro ser sério com as mentiras da Arte, a ser um palhaço com as verdades do realismo.
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